sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Até sempre, Analice!

Cheguei a casa vindo do treino, animado por ter corrido bem (amanhã é que vou perceber se a perna achou piada) e entusiasmado com a curta reportagem (mais uma) que nos fizeram e que sairá online na próxima 3a feira.

E, de repente, 2 minutos de Facebook e várias publicações sobre o assunto fizeram chegar-me aos olhos a triste notícia da noite: a Analice perdeu a luta  que estava a travar na "pior e mais longa Ultra Maratona da vida dela".

Penso que a grande maioria dos atletas amadores a conhecem, pessoalmente ou não, e muitos de nós já tivemos o prazer de partilhar a sua companhia em provas tanto de estrada como de trail. Confesso que demorei algum tempo desde que comecei a correr até ouvir falar dela e quando há uns anos atrás ela foi a atleta em destaque num episódio do SIC Notícias Running até nem prestei grande atenção nem tive muito interesse mas rapidamente mudei de atitude ao ouvir mais detalhes e pesquisar um pouco mais sobre a sua incrível história de vida.

Passado uns tempos comecei a cruzar-me com ela em algumas provas e pude verificar a sua simpatia, simplicidade e puro prazer e amor pela corrida. Toda a gente a cumprimentava e ela sempre respondia com um sorriso de quem estava plenamente feliz com o ambiente onde estava inserida. Todo o carinho que os atletas tinham por ela era retribuído na mesma moeda.

Por esta altura já quase toda a gente tem uma foto ou uma história com ela. Eu não tenho fotografia, mas tenho um pequeno relato que guardarei na memória e que aqui partilho:

São Silvestre dos Olivais, Dezembro de 2015: tive o privilégio de correr por algum tempo ao lado dela. Um bom quilómetro, talvez. Não me lembro do que falámos. Da chuva, talvez. A certa altura segui caminho, passado um bocado ela passou-me. Desejei-lhe uma boa prova e felicidades para os próximos desafios. No final da prova estava no exterior do Go Fit (onde a prova terminou) com os meus colegas de equipa que foram à prova e ela passou por nós. Estava sozinha, algo desorientada e perdida. Quando percebemos isso fomos em seu auxílio. Ela tinha ido à prova sozinha e sabia que tinha deixado o carro numa rua que ficava mesmo junto ao ginásio, mas não sabia qual era nem em que direcção ir. Com a aglomeração de pessoas e a chuva que tinha caído perdeu a noção do espaço. Saímos dali e começámos a percorrer as ruas que circundavam o edifício até ela encontrar o carro. Agradeceu-nos a ajuda e seguiu viagem. É uma história simples, como ela era.

Há dias foi colocado um vídeo na página de fâs da Analice no Facebook onde já se notava que a doença estava a fazer mossa. A certa altura falham-lhe as palavras e ela diz que está a ficar com preguiça de falar. E sorriu, naquele jeito meio inocente dela. Eu também sorri quando vi. E arrepiei-me ao mesmo tempo porque caiu-me a ficha naquele momento. Nunca esperei que o desfecho fosse tão rápido. Ela partiu e terá agora toda uma nova panóplia de estradas e trilhos onde correr. Esta geração de atletas amadores nunca a esquecerá.


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